domingo, 1 de maio de 2011

Sonho de um vascaíno

             Era mais uma final emocionante da Taça Rio e lá estava eu, no estádio, no belíssimo Maracanã, palco de tantos jogos marcantes. E aquele jogo seria um dos jogos que ficam para história! Eu tinha certeza, eu sentia isso, estava no meu sangue. Estava com a camisa do meu Vascão, o manto de honra! A cruz de malta estava firme em meu peito, iríamos ganhar! Golear o Flamengo, nosso maior inimigo. Não só eu, mas como todos os vascaínos de alma e coração, estávamos cansados dessa história de vice. Não somos vices! Fomos. Estávamos há minutos de sermos os novos campeões da Taça Rio e poder gritar para todos aqueles rubro-negros de uma figa: VICE!
            O jogo ia decorrendo na agitação, apertado, como uma boa final, cheia de emoções. Mas o meu Vasco estava na frente, estava sim. Faltavam somente cinco minutos para o final do jogo e o placar estava 3x2 para o Vascão. O Flamengo não ia ganhar, não ia ganhar. Não dessa vez, nem nunca mais! Agora era a vez dos vascaínos, era a vez da elite da cruz de malta brilhar, era a vez de todos os vascaínos se sentirem levantando a taça. Ah, nós levantaríamos.
- Só tem mais três minutos, cara! Vamos ganhar! – Escutei meu amigo vibrando ao meu lado, junto com seu radinho, onde escutávamos o Galvão Bueno narrando o jogo.
- Vamos ganhar! – Vibrei junto a ele, rindo, agarrando o meu manto vascaíno. Mais uma vez a cruz de malta iria brilhar e o Rio de Janeiro veria os campeões ressurgindo.
            Dois minutos e Ronaldinho Gaúcho lança uma na trave. Ah, meu coração foi em Marte e voltou, minhas mãos agora puxavam meus cabelos que, mesmo lisos, estavam para cima de tanto que eu os puxei na agitação. A torcida gritava, o mundo girava, era uma mar de preto e branco do lado que eu estava, era um mar de preto e vermelho do outro lado. E, ali no campo, era que aqueles mares se dividiam, mas deixavam seu coração batendo no mesmo ritmo: no ritmo do futebol.
            Um minuto e nada dos Flamenguistas fazerem outro gol. Eles estavam investindo firme, indo contra os jogadores vascaínos, mas nossos guerreiros estavam fortes. Eles também queriam a taça, a torcida queria a taça, o Vasco queria a taça. A bola se tornava um pontinho voando pelo campo, rápido, de pé em pé. O radinho vibrava, a torcida vibrava: o estádio vibrava. Foi quando o Vasco avançou e algum jogador lançou a bola no gol, não sei qual, pois, naquele momento, não escutava nada, não sentia nada, apenas acompanhava aquela bolinha indo em direção ao gol e... GOL! Ah, eu não aquentei, ninguém aquentou. O juiz, em algum canto do campo, apitou o fim de jogo, o Galvão Bueno também anunciou que éramos campeões. Mas eu não escutei, pois estava pulando junto com a minha torcida, junto com a torcida do meu Vasco. Gritávamos, pulávamos, chorávamos. O mundo era nosso, a taça era nossa e o Flamengo era nosso vice. O nosso vice! Ah, como eu queria gritar vice para o primeiro flamenguista que me aparecesse na frente. Mas aquele não era o momento.
            Finalmente, depois de muito tempo, conseguimos sair do estádio. Ficamos para ver a entrega da taça, claro! Eu estava lá, junto com meus amigos, rindo, felizes porque o nosso Vasco era campeão. Campeão da Taça Rio. Estávamos indo para o carro quando vi um grupo de flamenguistas encostados em um carro próximo, eu conhecia dois deles, amigos de faculdade, então fui em direção deles.
- Diego, o carro está ‘pra lá, cara! – Jonas veio ao meu encontro, ainda sorrindo, indicando o outro lado com o polegar.
- Eu ainda tenho uma última coisa para fazer. – Falei decidido, mais decidido do que já estive em toda minha vida. Uma coisa é você gritar “vice” para qualquer flameguista, mas gritar “vice” para um conhecido que gritou “vice” para você durante anos é outra coisa. Era como se um peso fosse sair de minha alma. Eu sentia isso, eu precisava disso. Cheguei pero dos rapazes, visivelmente abatidos.
- Fala aí, gente! – Cumprimentei o grupo, todo sorridente, enquanto eles me responderam alguns “oi”, “fala aí”, realmente desanimados, ou irônicos. Marcos e Cláudio já sabiam o que eu queria.
- Pode falar, Diego. Mas fala logo que o cheiro de naftalina está vindo aqui. – Marcos torceu o nariz, rindo em seguida.
            Foi quando eu peguei fôlego para gritar que o Flamengo era vice que eu escutei um barulho estranho e tudo girou ao meu redor. Nesse exato momento eu acordei, com o despertador berrando ao meu lado e a TV ligada, mostrando os jogadores do Flamengo levantando a Taça Rio. É, pelo visto Vasco não ser vice do Flamengo é apenas um sonho, um conto de fadas que todos os vascaínos sonham.

{Nota da autora: Meus queridos, só para deixar bem claro que sou Flamenguista de coração e que não tenho nenhum preconceito com os outros times. Futebol é esporte, é festa, é saúde e alegria. Este conto é apenas uma brincadeira. E, lembrando que este pequeno conto é uma ficção, ou seja, eu sei que o jogo desse ano foi no Engenhão e, qualquer semelhança com a realidade, é mera coincidência. Muito obrigada. Atenciosamente: Natasha Mello. }





Um comentário:

  1. Acabei de ler o conto Natasha, e adorei! Realmente, para alguns o futebol não é somente festa, saúde e alegria, mas também fanatismo (perdoem-me os torcedores fanáticos, mas nunca imaginei o meu "time" levando a taça durante o sono! haha). A ironia e a esperteza comandada na sua escrita foram perfeitas, você manteve o suspense e fechou o conto com chave de ouro. ^^ A parte que mais gostei foi a descrição dos "mares"... Imaginei tudinho.
    Parabén! ^^

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