sexta-feira, 29 de julho de 2011

Entre dois amores

Mamãe,

                Não sei exatamente como começar estar carta, na verdade, estou reunindo toda a minha coragem para escrevê-la. Primeiro quero que saiba que eu te amo muito e que sempre, mas sempre, vou te amar. A senhora sempre foi uma mãe maravilhosa, firme nas horas certas, doce e gentil, me ensinou valores que vou levar para toda a minha vida e um deles foi a verdade.
                Sempre fui uma adolescente alegre, tive namorados, fui à praia, ao cinema, à boate... Fiz praticamente tudo que uma jovem faz: ser feliz! Porém, como a senhora sabe, sou uma pessoa recatada, tímida, e isso sempre teve seus lados bons e ruins. Lembro-me quando a senhora dizia sobre não ser “Maria vai com as outras” e eu sempre disse que não era, mas no fundo eu fui. A maioria dos meus “namoricos”, mesmo os escondidos (que eu tenho certeza que a senhora sabia, mãe sempre sabe!) foram por conta das amigas e amigos, mas eu resolvi mudar.
                Lembro-me, mamãe, quando resolvi ir à igreja, a senhora achava que eu só ia para fazer amigos. Não sei se era, mas não posso negar que fiz amigos maravilhosos lá e, acima de tudo, conheci a Deus. Talvez eu o conhecesse antes, porém foi há três anos atrás que eu me apaixonei e agora, com vinte anos, resolvi me entregar a esse amor. Eu te amo, mamãe, mas Ele me chamou para uma missão maior.
                Sei que a senhora não deve estar entendendo ainda, então lhe peço calma, a mesma calma que tento ter enquanto meus dedos tremes e meus olhos se enchem de lágrimas a cada palavra desta carta. Nunca fomos uma família religiosa, papai só vai à igreja para casamentos, a senhora só às vezes e eu fico no oposto da balança, desta vez será muito mais oposto...
                Lembra uma vez quando conversávamos sobre o futuro? Ah, mamãe, seus olhos brilhavam quando a senhora falava em ter uma netinha, que iria amar ver sua única filha grávida, falava de como queria muitos pequenos correndo em sua casa e te chamando de vovó. Eu fiquei maravilhada, não posso mentir, mas pouco depois eu percebi que este não é o meu futuro, mamãe, eu fui escolhida para servir, eu quero me consagrar. Sim, eu quero ir para um convento, por mais duro que isso pareça, por mais arcaico que isso pareça, por mais irreal que isso pareça. A senhora pode falar que estou passando dos limites, que estou exagerando e afins, mas não estou mamãe. Sinto esse chamado há um certo tempo, mas sempre tive medo de te contar, pois a senhora tem tantos sonhos e fica tão feliz com eles, que eu me sinto como alguém sem coração que sopra um castelo de cartas quando estamos pondo a última cartinha, lá no topo. Fui criada bem, tive uma ótima educação e, na última carta, eu soprei os seus sonhos de continuar essa família.
                Fiquei com essa dúvida por tempo demais, meu coração fica apertado só de pensar, mas o que me leva a fazer isso é mais forte do que eu ou, até mesmo, do que a senhora, mamãe. Ele me chama e eu vou atender. Me sinto em um triângulo amoroso, por mais cômico que isto pareça: de um lado minha mãe, que eu amo tanto que daria minha vida por ela; de outro um chamado do Pai, que eu amo tanto que estou dando tudo por ele. Peço, mamãe, que encare isso como uma coisa boa, sou escolhida, não sou melhor que ninguém, apenas tenho uma missão de vida mais além. Quero ajudar, mamãe, quero servir de corpo e alma.
                Me desculpe por estar te contando assim, realmente me sinto péssima em fazê-lo, mas sabia que se eu falasse que estava indo para a casa das Irmãs e ficaria lá por bem mais que um fim de semana, a senhora iria me impedir, iria ficar triste... A coisa que eu menos gosto, mamãe, é te ver triste, afinal, com um sorriso tão lindo, que me cativou desde o momento que eu saí da senhor, um sorriso que me acalentou nas noites de pesadelos, que me consolou com as quedas da bicicleta, que enxugou minhas lágrimas nas brigas com namorados, que se emocionou quando eu entrei na faculdade de Psicologia. É esse sorriso que eu levarei para sempre comigo e em cada noite, ao fechar meus olhos, lembrarei de ti sorrindo, como se eu tivesse novamente sete anos.
                Sempre irei te visitar, mamãe, também vou te ligar e vou tomar sorvete de abacaxi com passas. Mas não lhe darei netos, nem serei um influente psicóloga, também não terei uma casa própria, assim como não vou viajar para o Rio de Janeiro e nadar em Copacabana. Mas uma coisa sempre será a mesma em mim: meu coração.

Um enorme beijo,
do seu eterno docinho de morango,
Anna Júlia.




{N.A.: O tema era "Triângulo Amoroso", então acho que vocês perceberam o motivo do selo. Obrigada! }



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